terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MOMENTOS DE TRANSIÇÃO


CRESCENDO E VIVENDO AS TRANSIÇÕES DE CADA ETAPA


As transições acontecem ao longo da vida dos seres humanos e independente da fase ou idade, todas têm um significado ímpar e desencadeiam diferentes sentimentos. O importante é poder contar com o apoio de alguém para enfrentá-las e ir aos poucos dominando os sentimentos de medo, insegurança e inquietação.
Ao nascer o bebê vive a sua primeira transição, sai de uma realidade de vida, onde está mergulhado em água e rapidamente necessita aprender a respirar para iniciar uma nova etapa. Encontra-se aqui a primeira e talvez a mais radical das transições da vida humana e mesmo sendo o bebê um ser tão frágil, ele sobrevive.
Meses depois, a maioria das crianças inicia a sua vida escolar, pois com a fim da licença maternidade muitas começam a frequentar a pré-escola. Esse é um momento onde tanto os pais, quanto os bebês necessitam sentir segurança e acolhimento para conseguir dar conta do turbilhão de dúvidas e emoções que surgem nesse período. Cabe aqui que os profissionais da escola estejam conscientes da delicadeza desse momento e acolham não só a criança, mas também os pais com segurança, dando-lhes as explicações necessárias e mostrando-se dispostos a esclarecer todas as dúvidas que surgirem. Nessa etapa não é só a criança que precisará do “colo”, pois devido à fragilidade do bebê, os pais também se fragilizam.
Quando chega a época de ingressar na primeira série, outro momento de transição se apresenta e apesar da criança estar mais crescida, saber expressar seus desejos e inquietações, a situação não é menos delicado. O turbilhão de sentimentos que surge gera na cabeça da criança um grande desgaste. Ela tem medo de não dar conta da autonomia que estão esperando dela, tem medo das novas exigências, do novo ambiente e até da liberdade que irá experimentar. Um programa de visitas aos novos ambientes, momentos de vivências e contato com as pessoas que atuarão com a criança, é fundamental. É preciso criar um clima de acolhimento e afetividade, onde tudo soe como um convite prazeroso a criança.
Estou me detendo em falar das transições escolares, mas as mudanças de casa, de cidade ou mesmo de escola ou contexto familiar, são significativas para as pessoas, em especial para as crianças, pois estas necessitam de explicações claras e de tempo para serem ouvidas e fazerem as perguntas sobre a nova realidade que se apresentará.
Ao final do Ensino Fundamental I, quando há a transição da quarta para a quinta série, acontece outro momento importante para a criança. E então, pais e professores precisam estar atentos e disponíveis para responder aos questionamentos, que agora são feitos diretamente pela criança, pois a ansiedade é comum, as dúvidas são muitas e as emoções se misturam, entre momentos de alegria e satisfação por perceberem que estão crescendo, e o medo do novo. Conversar, deixar que perguntem, visitar o ambiente onde irão freqüentar as aulas, e até conversar com alguns profissionais e alunos, é fundamental para que tenham ideia do que viverão. E aqui cabe dizer que apesar de já estarem na quinta série, são ainda crianças e necessitam de atenção, ouvidos atentos e olhos empáticos, pois muitos autores vêm essa transição como um novo nascimento para a criança. Normalmente ocorrem as dores de barriga e de cabeça, que merecem atenção especial, pois podem estar sinalizando que a criança precisa de ajuda, de tempo, de atenção.
Nos anos que se seguem, com o corpo passando por muitas mudanças, pois a puberdade e a adolescência chegam e revolucionam corpo e a cabeça dos jovens, pais, professores e todos os envolvidos, precisam formar uma equipe e dar suporte, informações claras e como nas outras etapas, limites, pois muito do que foi feito até aqui, servirá de base e suporte para os comportamentos futuros.
E ao final do Ensino Médio, pensamos que eles conseguem dar conta de tudo, pois depois de tantas vivências e já crescidos, seria natural que deixassem a escola num clima de festa. Mas não é isso que lhes ocorre, os adolescentes muitas vezes suplicam a atenção dos adultos porque sabem que os desafios daqui pra frente serão outros. A redoma onde viveram até então se romperá e esperam mais deles. Então, alguns se rebelam, mostram-se agressivos, questionam regras, enfrentam autoridades. Há súplica por “me olhem e me ajudem, estou sofrendo”. Outros calam, negam-se a viver as despedidas, pois dói muito deixar esse ambiente seguro e aventurarem-se em novos caminhos, novas experiências e muitas vezes novas amizades.
A complexidade das passagens ou transições é singular para cada pessoa, por isso cada vez mais as escolas se preocupam em organizar esses momentos, considerando a sua importância e profundidade. Daí a necessidade de pensarmos com responsabilidade e particularmente importante tentarmos ver o mundo como as crianças e jovens das diferentes etapas o enxergam. Se partirmos da visão deles, do que sentem, poderemos realmente ajudá-los a enfrentar cada situação sem pressão, mas ajudando-os a descobrir o prazer das novas vivências e relações. Com afeto e interesse pela situação que se apresenta eles perceberão que é só mais uma etapa a ser vivida e com suporte, descobrirão que como das outras vezes irão dar conta.
Professora Silvana Corrêa

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